O câncer de pele e o dezembro laranja

Após um ano bastante peculiar, de grandes mudanças em diversos aspectos, chegamos em dezembro! Um mês muito esperado, que para muitos carrega consigo o significado de férias escolares, recesso, verão, praia e sol. Mas, é importante lembrar que é também o mês de conscientização contra o câncer de pele, com o conhecido “Dezembro Laranja”. Essa Campanha, criada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, tem como objetivo principal a prevenção ao câncer de pele, através de alertas quanto aos sinais precoces da doença.

O câncer de pele é o câncer mais comum no mundo, representando no Brasil, aproximadamente um a cada quatro diagnósticos realizados de câncer. Isso pode ser justificado por ser a pele o maior órgão do corpo humano, em que, dentre as funções, uma delas é a proteção contra agressões externas. Sendo assim, toda a exposição solar se acumula nessa “barreira”, desde a infância. No entanto, o excesso dessa agressão, a médio e longo prazo, pode dar origem a mutações que levarão ao crescimento anormal das células e ao surgimento de neoplasias malignas.

Há vários tipos de câncer de pele, sendo os mais comuns o Carcinoma Basocelular (CBC), o Carcinoma Epidermóide ou Espinocelular (CEC) e o Melanoma. Em todos eles, a exposição solar excessiva é o principal fator de risco para desencadeamento da doença. Quanto mais clara a pele, maior é a agressão sofrida pela exposição à radiação ultravioleta. O CBC é o mais frequente no mundo, com incidência crescente, porém, de menor letalidade, normalmente tratado com pequena cirurgia. Entretanto, subtipos mais agressivos podem ocorrer, com necessidade de abordagens cirúrgicas mais extensas e complexas, podendo ocasionar danos estéticos com grande impacto psicossocial. Sol acumulado e exposições intermitentes e intensas, com queimaduras e bolhas, são os principais fatores de risco. Já o CEC é o segundo tipo mais prevalente entre os cânceres de pele. Exposição solar acumulada é também o principal fator causal, porém pode associar-se também a feridas crônicas, cicatrizes, radiação, entre outros. O melanoma, tipo menos frequente entre todos os cânceres de pele, é também o mais grave, pois pode gerar metástases e levar o indivíduo à morte. No entanto, apesar de estar associado aos sentimentos de medo e insegurança, quando detectado precocemente possui chances de cura acima de 90%. Pode acometer indivíduos jovens e se manifesta, geralmente, como um sinal ou pinta, nova ou se modificando. O método do ABCDE apresenta grande utilidade para a detecção, inclusive pelo próprio paciente, e compreende os seguintes critérios: A (assimetria), B (bordas irregulares), C (cores distintas), D (diâmetro maior do que 6 milímetros), E (elevação ou evolução, modificação). Essa é uma forma simplificada, porém de grande ajuda diagnóstica para médicos generalistas, assim como apresenta importante papel na conscientização da população.

Quando diagnosticados precocemente, os cânceres de pele geralmente apresentam bom prognóstico, com alto índice de cura após tratamento adequado. No entanto, para que isso ocorra, é necessário um acompanhamento regular com o dermatologista, com exame completo e minucioso da pele, além, é claro, do autoexame pelo próprio paciente.

Pessoas com a pele, olhos e cabelos mais claros, que não bronzeiam, mas ficam vermelhos ao se exporem ao sol, são as que apresentam mais riscos de desenvolver câncer de pele. Além desses, outros fatores de risco incluem histórico de queimaduras solares, mesmo que intermitentes, desde a infância, uso de câmaras de bronzeamento, histórico de câncer de pele na família, múltiplos sinais pigmentados pelo corpo, exposição crônica ou intermitente e intensa ao sol, predisposição genética, imunossupressão, entre outros. Pacientes negros, apesar de mais protegidos da radiação ultravioleta pela melanina, também apresentam risco de desenvolver câncer de pele.

O exame completo e periódico de toda a pele, desde o couro cabeludo até entre os dedos do pé, é outra forma de prevenção ao câncer de pele, a prevenção secundária ou diagnóstico precoce, principalmente para esses indivíduos com mais fatores de risco.

Uma dúvida muito frequente é a relação entre a exposição ao sol e o nível de vitamina D. Vivendo em nosso país, tropical, especialmente no Rio de Janeiro, são necessários em média apenas 15 minutos de sol, em apenas 5% da superfície corporal, 3 vezes por semana, para se obter níveis adequados de vitamina D. Além disso, em estudos recentes comprovou-se que a síntese de vitamina D depende de doses baixas de radiação solar UVB, em pequenas áreas do corpo, como no couro cabeludo, e até mesmo através de roupas leves. Para casos individualizados, e dependendo dos fatores de risco existentes, a reposição de vitamina D é também alternativa para manter seu nível sanguíneo com valores adequados.

O sol é vida e está intimamente ligado ao ciclo circadiano, ao sistema imune, e também à saúde mental. Devemos sim aproveitá-lo, praticar atividades ao ar livre, contemplá-lo. No entanto, bom senso é sempre fundamental, e o mais importante é saber os riscos que existem com a exposição solar prolongada, sem limites, em horários inapropriados. Devemos difundir essa informação e educar desde os mais jovens, para que esses conscientizem os filhos e assim por diante. É também muito importante lembrar que a pele deve ser examinada por um profissional especializado, de forma completa sempre, e que qualquer sinal ou lesão nova, crescendo ou se modificando, ou com algum sintoma, deve ser examinada por um dermatologista.

Este ano a Campanha “Dezembro Laranja” será realizada no formato digital, e o tema escolhido é justamente o diagnóstico precoce, com a conscientização iniciando ainda na infância. Enfatiza-se a necessidade do conhecimento e de orientações aos mais jovens, à fim de criar novos hábitos de foto-proteção e de promover o envelhecimento saudável da pele na idade adulta, influenciando positivamente as futuras gerações.

Escrito pela Dra. Julia Loss CRM 520108563-8

Referências

1) DezembroLaranja2020: Campanha do Câncer de Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia
fortalece a importância da informação e educação em saúde para a prevenção da doença. Sociedade
Brasileira de Dermatologia. Sua Saúde; Ações e Campanhas; Dezembro Laranja. Disponível em:
https://www.sbd.org.br/dezembroLaranja/sobre/. Acesso em: 18 de novembro de 2020.


2) Câncer de pele. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Sua Saúde; Pele; Doenças; Câncer de pele.
Disponível emhttps://www.sbd.org.br/dezembroLaranja/sobre/. Acesso em: 18 de novembro de 2020.


3) ALVARENGA, Daniela; CAMPOS, Gabriella. Maio: mês mundial da prevenção do câncer de pele. Veja
Rio, Rio de Janeiro, 19 de maio de 2020. Disponível em: https://vejario.abril.com.br/blog/daniela-
alvarenga/maio-mes-prevencao-cancer-de-pele/. Acesso em: 18 de novembro de 2020.


4) SERFATY, Fabiano; CAMPOS, Gabriella. Câncer de pele: por que não devemos ignorá-lo. Veja Rio, Rio
de Janeiro, 23 de maio de 2017. Disponível em: https://vejario.abril.com.br/blog/fabiano-serfaty/cancer-
de-pele-por-que-nao-devemos-ignora-lo/. Acesso em: 18 de novembro de 2020.


5) Pereira LA, Luz FB, Carneiro CMMO, Xavier ALR, Kanaan S, Miot HA. Evaluation of vitamin D plasma
levels after mild exposure to the sun with photoprotection. An Bras Dermatol. 2019 Jan-Feb;94(1):56-61.